Harpias Fugitivas {Missão Comum Interna (M.C.I.)} — Para: Alicia C. Hills

Lá estava eu, pronta para mais um dia de treino. Minhas armas, agora transformadas e inofensivas estam comigo. A única coisa não-combativa era o meu anel, lembrança de meu pai.
Vestia roupas simples, para uma filha de Afrodite. Minhas irmãs, que eram surpreendentemente poucas, olharam de cara feia para mim. Rolei os olhos, sem me importar muito com elas.
Hoje, eu iria finalmente treinar. E nada poderia tirar o meu bom humor, não é mesmo?
Bom, quando eu cheguei na Arena, vi o quanto estava enganada. Para as poucas que pessoas que haviam lá, o lugar estava um verdadeiro pandemônio. Os Instrutores gritavam para que todos se acalmassem em vão. A cena quase me fez rir. Quase.
Andei em direção a um deles, com a esperança de treinar esvaindo-se de mim.
– Ãh... Com licença. O que está acontecendo aqui?
O Instrutor virou-se e estava prestes a gritar, quando algo o fez mudar de ideia. Confusa, olhei para os lados. Não sabia o que havia acontecido com ele.
– Acontecendo? Ah sim! Algumas harpias escaparam. Não sabemos como. Os campistas estão loucos!
Ri de seu comentário, apesar de meu humor, que ficara um pouco sombrio. Como assim, fugiram? Agradeci a ele e já ia embora, quando o mesmo disse, pensativo:
– Hum... Eu deveria ir ajudar Quíron a encontrar essas harpias... Seres perigosos, esses... – quando ele percebeu que eu ainda estava lá, arregalou os olhos, como se houvesse dito algo inapropriado e saiu correndo.
Levantei uma sobrancelha, mais confusa do que nunca. Um pensamento ocupava a minha mente; Quíron precisa de ajuda.
Parecia que pelo jeito, eu teria algo para fazer naquele dia.

[•••]

Encontrava-me na varanda da Casa Grande, discutindo com o centauro.
– Vamos lá, Quíron! Me libera! Eu consigo cuidar desses monstros! Por favor!
Okay, eu omiti a parte de que eu TALVEZ pudesse cuidar das harpias, ainda mais sozinha. Mas depois de perguntar para pelo menos metade do Acampamento onde Quíron estava, eu não iria desistir tão facilmente.
Ele passou a mão pelo cabelo marrom, frustrado.
– Eu não posso simplesmente deixá-la ir. Sabe os riscos? Não quero uma campista machucada. Me dê um bom motivo.
Apesar da relutância, percebi que ele estava cedendo aos poucos. Resolvi acrescentar um pouco de poder à voz.
– Quíron. A coisa mais sensata seria me deixar ir, não concorda? Sou a única que esta se voluntariando aqui e, provavelmente, a mais preparada para isso.
Ele suspirou, derrotado.
– Muito bem. No entanto, tome cuidado e não deixe que ninguém saiba de sua missão, entendeu? Agora, vá para a Floresta. Rápido, menina!
Segurando um sorriso satisfeito, que lutava para sair, assenti rapidamente, indo embora antes que ele mudasse de ideia. Muita coisa estava em jogo. Eu era uma campista completamente destreinada. Contra duas harpias selvagens.
Bom, parece que as coisas estavam para ficar muito interessantes, não é mesmo?

[•••]

Cheguei à Floresta, afobada. Meus músculos doíam de tanto correr e eu estava suando. Isso é o que dá ficar tão fora de forma desse jeito. Por outro lado, eu estava pronta. Não iria decepcionar o centauro.
Nem precisara passar no chalé. Tudo já estava comigo mesmo. Girava o anel em meu dedo, ansiosa. Meu olhar disparava pela Floresta, atenta aos movimentos. Era agora que a diversão começava.

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Realmente, “manipular” Quíron havia sido fácil. Será que eu estava ganhando prática nisso? Bom, não importava. Não mais. Havia conseguido o que queria. Por ora, seria melhor deixar os outros em paz.
Após algum tempo, finalmente cheguei ao começo da floresta. Respirei fundo e entrei na mesma, temerosa. O que eu deveria fazer? Andar por aí, como uma maluca, murmurando: “Aqui, harpias, aqui. Olha a meio-sangue, com carne sobrando...”, claro que não. Se bem que eu estava ficando gorda. Até que essa corridinha estava fazendo bem.
Ouvi um ruído e virei-me, alarmada. Por que eu nunca estava atenta? Bom, devo dizer que foi tranquilizante ao descobrir que o que causara o barulho fora algum animal, inofensivo aos meus olhos.
Olhei novamente para os lados e dei de ombros. Restava uma opção; caminhar. Em linha reta.
Andava, andava e andava, sem parar. Avistei algo pelo canto do olho e rodei, assustada. Rolei os olhos aos constar que não era nenhuma harpia assassina. Logo, eu estava ofegando e cansada. Olhei desejosa para um arbusto, com pequenas frutinhas, mas desviei o olhar depois. Eu não podia. Não tinha certeza se aquelas “frutas” eram comestíveis, ou mortais.
Duas vozes soavam na minha cabeça. A primeira me mandava ir embora, voltar para o chalé e comer algo, descansar. Sinceramente? A minha mente aprovou essa ideia. A outra era mais ríspida. Me falava para continuar, tentando-me com a ideia de Quíron me respeitando, e vendo que eu não era uma inútil do chalé de Afrodite.
E sim, segui essa voz. Aposto que você pensava que eu seguiria a primeira. Bom, enganou-se. Não sou tããããão irresponsável assim.

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Finalmente, achei algo que poderia servir como um razoável banco e sentei-me no mesmo. Claramente estava escurecendo, o Sol estava dando espaço para a aparição da Lua e das estrelas, mas não importei-me. Estava cansada. E irritada. E nada contribuía para o meu humor mais do que o pensamento de uma caneca de chocolate quente, a fogueira aconchegante e... Ok, chega!
Não posso ficar me tentando deste jeito.
— Onde será que essas criaturas se meteram? – a pergunta saiu dos meus lábios e rolei os olhos, lembrando que estava sozinha, então ninguém iria me responder. Nervosa, soquei a raiz da árvore em que me encontrava.
Bom, para o meu breve espanto, a árvore emitiu um som.
— Ai! Cuidado menina!
Okay, tenho que admitir que não foi um susto pequeno. Tive que segurar um grito, permitindo que meus olhos arregalassem e pulando para trás, quase caindo, tropeçando em uma das várias raízes que rodeavam o chão.
Uma dríade. Claro. Bom, não preciso dizer que eu falei isso em voz alta e que me desculpei, já que sou muito... Ãh... Educada, não é mesmo? Ótimo. Agora, eu estou falando com o meu leitor. Ah, que normal.
Ela perguntou sobre um garoto. James. Franzi a testa e perguntei quem era o tal garoto e ao ouvir a resposta da mesma, sorri. Tudo bem que ela estava portando-se de maneira completamente inútil para a minha missão e eu não via nenhuma utilidade em ficar, mas eu sentia falta daquele olhar apaixonado. Fazia tempo que não via em alguém.
E finalmente, a dríade falou novamente:
— Agora que me acordou, diga, o que procura?
Enrolei-me, confusa com a súbita mudança de expressão da ninfa e abri e fechei a boca, tentando formular a minha resposta. Algo parecido com um “É” foi emitido e a minha companheira falou:
– As harpias?
Como ela poderia saber? Perguntava-me isso, até que fiz a pergunta a ela. Minha expressão também havia mudado. Agora, eu estava séria.
— Simples, há uns cinco minutos elas passaram por aqui, sabia que eram habitantes da floresta. Estavam agitadas e agressivas demais.
Arregalei os olhos e mordi o lábio. Então aquelas aves já estavam causando problemas? Ah, maravilha. A dríade falou para que eu tomasse cuidado, exclamando isso.
Rebati, com a fala:
– Eu preciso encontrá-las! Para que lado eu vou?
Ela apontou para a direita, mandando-me correr. Agradeci, um pouco confusa sobre o que ou como deveria referir-me a ela, então simplesmente pronunciei “dríade”, que foi respondido com um breve “De nada e cuidado”. Ah, que coisa linda.
Algum outro comentário escapou da sua língua, mas eu estava longe o bastante para não ouvir. Mas, obviamente foi ouvido o:
– Ai James! – que foi pronunciado.
Rolei os olhos, embora relutante. Ela realmente parecia gostar desse tal James. Balancei a cabeça, concentrando-me no caminho.
Agora, eu deveria manter-me alerta. Poderia ser atacada a qualquer minuto.

[•••]

Bom, quando eu voltasse, deveria agradecer à dríade. Isto é, se eu voltasse. As harpias comiam um coelho, ensopado de sangue, os olhos vidrados. A cena me deu nojo e repugnância e tive que segurar um gemido de insatisfação. Transformei meu broche no arco e preparei o mesmo. Minha pontaria não era muito boa, mas eu obviamente não iria errar (na verdade, muito provavelmente) uma das harpias, com aquele tamanho, tão perto.
Respirei fundo e então, soltei a corda do arco, vendo a flecha de energia sair do mesmo. Sem importar-me com o resultado, mirei e atirei na outra harpia, preparando o meu chicote. Fiz com que ficasse com apenas um metro, nada muito exagerado e estalei o mesmo no chão, chamando a atenção dos monstros. Engoli em seco e um meio sorriso saiu de meu rosto, apesar da tensão do momento.

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