Malfeitores ▬ Missão one-post externa para Chuck

Breaking Bones is



Medicinal...

Batidas ritmadas quebravam o tão sagrado silêncio matinal. Minha cabeça doía, graças a uma péssima noite de sono. Levei a mão à testa, tentando me lembrar onde estava e o que fazia ali. Finalmente, percebi que estava mais uma vez no chalé de meu pai. Minhas irmãs ainda permaneciam em sono profundo. Levantei-me da cama, ainda ouvindo as batidas ritmadas na porta, imaginando um modo de trucidar aquele que ousava interromper o sono de um filho de Hades. A porta abriu-se com um rangido infernal, revelando um sátiro encharcado, graças à chuva que caía lá fora.

- Seja breve, por favor. - Disse, abanando uma mão com desdém e levando a outra à minha cabeça que parecia prestes a explodir.
- Quíron pede que você viaje imediatamente para Toronto, no Canadá. Um grupo de semideuses de alta periculosidade que têm cometido vários crimes pela cidade. O próximo alvo do grupo é a Maylin School, um colégio interno, nos arredores da cidade, esta noite. Traga-os vivos para o acampamento. - O sátiro terminou, sacudindo as patas e molhando o chão do chalé.
- Estarei pronto logo em breve. - Respondi, revirando os olhos para o sátiro.
- Bééé! - Disse, levantando o braço e acenando, enquanto me via bater a porta em sua cara.

Estava sozinho outra vez. Exceto pelas minhas irmãs, mas estas ainda dormiam. Aproximei-me de minha cama, desejando poder voltar para meu sono. Mas agora não havia mais volta. Abaixei-me, pegando o equipamento escondido debaixo da cama e organizando-o sobre a cama. Havia uma pulseira de ouro, de onde pendia um pingente de um homenzinho. Este estava ao lado de um bracelete Spike. Não muito longe, encontrava-se também um gorro negro, um colar de prata com um pingente de caveira e uma adaga de prata. Todos bem organizados sobre os lençóis da cama desarrumada.

Depois de me vestir com um par de All-Star, um par de calças jeans escura e um suéter negro, comecei a equipar-me. O bracelete no braço direito e a pulseira no braço esquerdo, a adaga embainhada na cintura, o colar em meu pescoço e o gorro em minha cabeça. Estava finalmente pronto para partir. A chuva ainda caía lá fora, cada vez mais forte. Por isso, vesti uma capa de chuva e me dirigi à porta. E com um suspiro, deixei o chalé, pensando em quando poderia descansar outra vez e se a infernal dor de cabeça acabaria antes que eu chegasse a meu destino final.

O vento soprava forte na colina. Trovoadas distantes martelavam minha cabeça, piorando a minha dor de cabeça. A grama encharcada molhada meu tênis e, certamente, aquilo me deixaria bem mais doente do que eu já parecia estar. Geralmente, preferia voar com Crusher, mas o tempo - nos dois sentidos da palavra - não me favoreciam. Por isso, eu precisaria de um veículo mais rápido. Assim, estendi minha mão à frente, concentrando-me, mesmo em meio à forte tempestade. Meus olhos brilharam em tons avermelhados, debaixo da capa de chuva, enquanto uma grande massa negra surgia à minha frente. A matéria escura finalmente tomou forma, transformando-se em um grande cão infernal. O animal começava a ficar encharcado pela chuva.

- Vamos para Maylin School, em Toronto. - Disse, em uma língua diferente. O cão pareceu entender, respondendo-me com m latido poderoso.

Montei na criatura, segurando-me em seu pescoço e preparando-me para a viagem. Logo, estávamos correndo pelo gramado, até saltarmos na escuridão, viajando pelas sombras...


Num instante, viajávamos em alta velocidade pela densa escuridão. No outro, a escuridão dava lugar a um cenário diferente do anterior. Era noite, mas já não chovia mais. Não havia nada ali, exceto colinas a distancia, árvores, um gramado enorme e um gigantesco prédio antigo, revestido por heras em toda sua extensão. Olhei para baixo, em busca do cão infernal, mas este já se encontrava deitado sobre a grama, vencido pelo cansaço. Estalei meus dedos, e o animal desfez-se em fumaça negra, retornando ao submundo. Finalmente, joguei minha capa de chuva sobre a grama e comecei a focar na tarefa. A dor de cabeça ainda me matava, mas era algo suportável. Era tarde, por isso todos os alunos deveriam estar dormindo, mas ainda havia luzes acesas na recepção. Presumi, então, que aqueles seriam meus alvos. E enquanto me movia pelo grande gramado, em direção a eles, imaginava o que haveria de valioso em uma escola.

A caminhada foi breve. Logo, estava encostado na fachada do colégio, tentando não ser visto. Eu podia sentir seus movimentos. Na verdade, podia sentir tudo ao meu redor em um raio de 5 metros. Havia vários. Finalmente, desembainhei a adaga de prata enquanto meu corpo desfazia-se, desaparecendo. Pois o gorro havia se transformado em meu elmo da escuridão, permitindo-me a invisibilidade. Finalmente, adentrei a Maylin School. Os quatro malfeitores conversavam ali mesmo, no meio de um enorme salão com chão de mármore negro polido, paredes brancas e cobertas de quadros dos antigos diretores da escola, presumi. Não havia mais ninguém ali, exceto eles, em um círculo de conversa. Aproximei-me sorrateiramente, tentando não chamar muita atenção.

- Esperem. Ouviram isso? - Disse o filho do Sol.
- Eu não ouvi nada, solzinho. - Replicou o filho de Ares.
- Shh! - Exclamou a cria de Apolo.
- Não faça "Shh" para mim. - Respondeu outra vez, alterado.

Antes que pudessem dizer qualquer outra coisa, coloquei meu plano em prática. A adaga cravou-se no dorso do filho de Apolo, na base de sua coluna. O garoto urrou de dor, enquanto seus amigos o viam cair no chão.

- E isso te deixa... Paralisado! - Eu exclamei. Atingir aquele local estratégico o faria ficar paralisado apenas da cintura para baixo, mas isso já era o bastante.
- Quem é você? Apareça! - O filho de Hermes tomou a frente da batalha, posicionando-se à frente dos outros dois.

Continuei a andar pelo saguão, até chegar bem próximo do filho de Íris. Minhas mãos frias o tocaram e este caiu imediatamente. O rapaz contorcia-se no chão, vítima de visões dolorosas de sua pele apodrecendo. O filho de Hermes e o de Ares, impotentes, apenas observavam seus amigos no chão. O efeito de meu elmo foi, aos poucos, desfazendo-se. Embainhei a adaga em minha cintura outra vez, até me tornar outra vez visível. O bracelete spike, em meu pulso direito começou a transfigurar-se. Vi minha foice surgir em minha mão, enquanto os garotos sacavam seus armamentos. A prole de Hermes segurava duas adagas, enquanto a de Ares segurava uma lança.

- O que você quer? - Disse o ladino.
- Matar vocês. - Respondi, sorrindo.

Foi o bastante para o rapaz avançar contra mim, investindo apenas com suas adagas e tentando um ataque frontal. Mas antes que seu ataque pudesse ser bem sucedido, minha foice avançou em sua direção, tentando golpeá-lo. O filho de Hermes, porém, conseguiu recuar, evitando a lâmina amaldiçoada. O segundo veio logo em seguida, segurando a lança e apontando-a para minha cabeça. Posicionei minha foice à frente, golpeando o cabo da lança com o cabo de minha arma.

- Por favor, vamos acabar logo com isso. Essa dor de cabeça está me enlouquecendo. - Disse eu, levando a mão esquerda à testa.
- Cale a boca, seu bastardo! - Exclamou o filho de Ares.
- Isso não foi legal... - Fitei-o, fuzilando-o com meu olhar.

Deixei minha foice cair no chão, enquanto a pulseira no braço esquerdo brilhava. Vi o escudo redondo surgir rapidamente em meu braço. Finalmente, os olhos do pingente de caveira em meu pescoço também brilharam. Minha velocidade, assim como a força, foi multiplicada. Imediatamente, avancei contra a cria de Ares. Com o escudo à frente do corpo, comecei a correr em sua direção. Tudo parecia um pouco mais lento, graças à minha velocidade. Finalmente, o escudo colidiu com o garoto, fazendo-o chocar-se com força contra a parede do hall. Logo em seguida, aproximei-me do filho de Hermes. Segurei suas mãos, apertando-as com força e quebrando seus ossos. O som era como uma terapia para meu mal-estar. Antes que este pudesse se defender, levantei minha perna, chutando o membro inferior do garoto. Se eu tivesse sorte, quebraria um osso. O lugar acelerou-se outra vez. O efeito do colar já havia passado e meus oponentes estavam todos no chão. Minha mão direita levantou-se, na direção de uma sombra no canto do hall. E esta se tornou modelável, formando correntes que prendiam os quatro criminosos. Meu trabalho estava quase feito e minha cabeça ainda latejava.


Deixamos o interior do colégio, depois que eu recolhi todas as minhas armas. A quadrilha de semideuses ainda estava bastante ferida, ou atordoada. Por isso já não resistiam. Lá fora, no gramado, cinco pégasos nos aguardavam. Mandados por Quíron, eu presumi. Posicionei todos os semideuses nos cavalos alados e rapidamente alçamos voo em alta velocidade, pelos céus do Canadá.


O voo fora relativamente tranquilo. Talvez os quatro estivessem conformados com sua situação. Ou apenas cuidavam para não caírem dos equinos. Já amanhecia, quando chegamos às fronteiras mágicas do acampamento. Quíron aguardava-nos na colina, junto a um grupo de sátiros, que trataram de conter os malfeitores, assim que seus pégasos tocaram o chão.

- Obrigado, Chuck. Mais uma vez, você ajudou a manter a ordem no mundo. - Disse o centauro receptivo.
- Ótimo. Você pode e recompensar com uma aspirina e uma cama. - Respondi, abanando a mão e descendo a colina. As marteladas em minha cabeça só seriam aliviadas com um merecido sono ou com o estalar de ossos quebrando...